segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Apontamentos sobre Cinema
O indivíduo, aparentemente abandonado e sozinho numa sociedade cada vez mais laicizada e assolada por uma crise de valores praticamente implantada, procura como meio de evasão ao quotidiano, uma sala de cinema. Esta sala provoca no espectador a obsessão e o fascínio pelas novas invenções tecnológicas, pelo fantástico e pela maneira como são abordados os problemas actuais. Ao visualizarmos um filme no cinema, parece que estamos presentes, que fazemos parte integrante e que somos transportados para o seu interior, levando o indivíduo a fazer um exame de consciência. Quanto ao espectador mergulhado na sala de cinema escura, Morin observa que o sujeito-espectador absorve o mundo que é projectado na tela e participa dele, mas essa participação, por ser desprovida de mobilidade, é regressiva (a um mundo primitivo), infantilizada, como nos sonhos.
Por outro lado, o princípio cinematógrafo baseia-se na selecção que é feita pela câmara e pela montagem sobre o que há a mostrar, e depois é preciso articular as imagens (planos) seleccionadas, fazendo-as passar num ecrã. Assim sendo, procede-se há criação de um sistema de sucessão de imagens, pertencendo à categoria das imagens fixas. Se o cinema funde o orgânico e o mecânico num universo de formas ondulantes, também esta ligado à tecnologia da impressão. Ao projectar as palavras, por assim dizer, o leitor (espectador) tem que seguir as sequências de planos fixos, e por consequente tenta seguir os contornos da mente do autor segundo diferentes velocidades e múltiplas ilusões de compreensão . Assim sendo, “o ecrã é o lugar onde pensamento-autor e o pensamento-espectador se encontram e revestem o aspecto material do acto”.
O cinema pode-nos aproximar ou afastar das coisas, e girar à volta delas, suprimir o ancoramento do sujeito como do horizonte do mundo, de tal modo que substitui um saber implícito e uma intencionalidade segunda às condições da percepção natural. Não se confunde com as outras artes, que antes apontam para um irreal através do mundo, mas faz do mundo ele próprio um irreal ou uma narrativa, que se torna a sua própria imagem, e não uma imagem que devém mundo.O cinema, segundo Morin, é montagem, ou seja, deformação, «trucagem»: “As imagens por si só, nada são; só a montagem as converte em verdade ou mentira”.Assim sendo, constatamos que o cinema é um grande divulgador de modelos de comportamento e pode servir de apoio aos valores e à sensibilidade humana a nível cívico e social, caso se tratem de comportamentos concordantes. O cinema é, pois, o mundo, mas um mundo meio assimilado pelo espírito humano, de permuta e em constante transformação.
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ResponderExcluir"Debord explica que o espetáculo é uma forma de sociedade em que a vida real é pobre e fragmentária, e os indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens de tudo o que lhes falta em sua existência real."
Não, mas gostei do que disseste, vou lêr...:)
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